terça-feira, 24 de março de 2009
Estes sapatos não me cabem mais
sexta-feira, 13 de março de 2009
A curta história do Homem que queria mudar o mundo
Pela janela, ele estava olhando aquele trânsito caótico. Todo dia era a mesma coisa. Centenas, milhares, milhões de carros passavam por sua janela. Buzinas, fechadas, mais buzinas e palavrões ao léu. Ainda tomando um gole de café, voltou a sentir aquela sensação que vinha de dentro do seu espírito, e que parecia se alojar em sua espinha servical , deixando-o pleno – completamente pleno. Ele sabia, tinha que mudar o mundo. Sentia que se havia um porquê dele existir, era para mudar o mundo. Estava convicto, definitivamente. Sempre que via alguém jogando a embalagem do chiclete pela janela do ônibus, não hesitava e ia tirar satisfação com a criatura que havia sido capaz de tamanha bárbarie. Se via uma pessoa cortando uma árvore, à noite não conseguia dormir. Como dizem, sentia dor alheia. Realmente não entendia porque as pessoas não podiam ser iguais a ele. Não melhores, simplesmente iguais. Acreditava que se assim fosse, o mundo estaria salvo. Seu maior defeito era o perfeccionismo, respondia rápido sempre que lhe perguntavam. Era um crítico perfeito, já que tinha uma queda especial por filosofia. Os dedos mais lhe serviam para apontar defeitos do que para acariciar virtudes. Perdia mais tempo julgando do que fazendo, imaginando do que arriscando. Era inteligente, bonito e parecia sempre auto-confiante. Todas as noites pedia a Deus que as pessoas mudassem; mas esquecia-se de começar a mudança em si mesmo.
quinta-feira, 12 de março de 2009
Duna
Estava confuso quando entrou ao pátio daquele aeroporto. Todos ali pareciam saber muito bem para onde estavam indo ou aonde estavam chegando. Ele não. Não restavam dúvidas, naquele local ele era o único que não sabia ao certo sequer o seu próprio nome. Podia ser um simples João ou um misterioso Don Juan, não fazia diferença. Na verdade, aquilo pouco importava para ele. Haviam coisas mais importantes com que se preocupar, pensava. Naqueles últimos tempos só sentia que algo não estava bem. Não com o mundo, mas com ele próprio. Algo que era só dele e que só ele podia mudar. Algo que ninguém imaginava que ele sentia. Ele foi sempre tão hm... perfeitinho aos olhos externos. Mas, apesar do mundo achar que não, ele sabia que algo não estava certo. Não podia ser assim. Disso ele não tinha dúvida alguma.
Enquanto a tempestade parecia gostar de ficar sobre sua cabeça, ele lembrou que a alguns dias havia andado por dunas e notado como elas são nômades. Aquilo lhe havia chamado a atenção. Percebeu que elas não guiam, mas, ao contrário, são guiadas. Sem lutar, sem resistir, sem entrar na quebra-de-braço com o fato, naquele caso. Apenas se deixando levar pelo vento. É inegável, entendeu que a sensação de perder o controle causa um certo desconforto. Talvez a solução esteja justamente em soltar um pouco as rédeas e apenas se deixar levar. Ele decidiu pagar pra ver.