sábado, 30 de outubro de 2010

mudar de forma a partir do rio

Quando as águas que conheci passaram, quem sou este que retorna?

Não me vejo mais na imagem que este rio reflete
Mudar de forma a partir do rio
Mas me escuto no barulho da água que corre, que muda se forma, que não se conforma.


Trechos de Do Rio, de Colligere.



Vernal Falls
by Stefan Baumann
2003, oil, 27 x 17

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

f a l t a - a r

guarda
falta
guarda essa falta?
faz falta
é de faltar, de estar impreenchido

falta ar
falta graça
falta amar
falta ter
falo de guardar

"se este senso
de imcompletude passar,
será que um dia
alguma coisa
irá mudar?"

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domingo, 17 de outubro de 2010

beleza maior


sabe aquela poesia que cintila nos olhos do amante?
aquela paz que surge até mesmo de um simples ventar
algo que nasce na espinha dorsal e tem uma transcendência espiritual
uma beleza que parece vir de outro lugar
faíscas de pura existência na alma do ser
samadhi, nirvana... extâse
um agora eterno que destrói os sentidos físicos
é meta-física, é transcendência
acesso a outros mundos
uma graça e humor até ante os descaminhos a enfrentar

é dessa beleza que falo, do amor, que revoluciona e esquenta
estabiliza os sonhos e ancora os corações
aquela energia nova, especial, que pinta tudo com cores mais vivas.

lembro que é mais ou menos por aí...
e faz tempo que ela não aparece por aqui.

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domingo, 10 de outubro de 2010

me-edita-a-ação

meu amigo, não se apresse que nada é pra já
vê aquela Estrela e aquela Lua, no céu a se destacar
vê (e percebe!) que tudo precisa acontecer dentro do Ordenar
fora disso, nada válido há

vê, meu amigo, o caminho a se iluminar
vê que tudo deve fluir, se revelar
vê o caminho, a estrada, e a poeira que deve se levantar.

"Dai-me, Senhor, serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar; coragem para modificar aquelas que posso modificar; e sabedoria para distinguir umas das outras."


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terça-feira, 5 de outubro de 2010

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ficou no calendário, nos dias, na memória
na memória substituída por outros sóis, outras luas, outras estrelas... parciais
as substituições são temporais; mas cômico é que de tempo-em-tempo dá-se a eternidade
são elos concatenados em seu Tempo específico, ou não.

cada amigo tem seu tempo, seu querer, sua marca.
e minha memória lembra de cada parte.


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domingo, 3 de outubro de 2010

o suave fluir

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, quem não dá papo pra quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou um ingresso de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma forte paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam o brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

Martha Medeiros